Por Helen Almeida
Sobre a Solidão, o Vazio e a Incomunicabilidade
Com a câmera fixa, o enquadramento em profundidade de Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência remete a um quadro de Edward Hopper. O silêncio, os ambientes cinzas, sem cor. As histórias se sucedem em recortes, sem maiores explicações. Seus personagens parecem estar limitados por barreiras invisíveis, não conseguem expressar a dor que deveras sentem, e não seriam entendidos.
A narrativa do filme se dá nos detalhes. Os personagens são rígidos fisicamente, quase não se movem e parecem declamar um texto ensaiado e esvaziado. Os vendedores de produtos de entretenimento estão imersos em profunda tristeza. A risada gravada que vendem soa sem sentido, com um peso, e se evanesce no vazio. Ou pode ser inacessível a alegria, como o guarda que observa através do vidro o restaurante que não pode entrar por um mal-entendido na reserva.
É também sobre a vida que segue contínua e os dias que se confundem. O afastamento do observador faz com que ele se torne o pombo do título. É a existência absurda que damos prosseguimento sem saber bem o motivo é o que retrata o filme. Talvez aceita-se que tudo está bem para não enxergar o quão mal as coisas estão.
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