Estou abrindo uma sessão aqui no blog chamada "Escritos" e nela vou em geral postar poemas/poesias/contos etc que eu mais gostei de cada escritor. Para começar escolhi o poeta Mário Quintana, porque tenho um livro dele aqui em casa e me identifiquei muito com o livro inteiro, mas escolhi apenas 5 poesias/poemas para postar aqui.


A rua dos cataventos

SONETO XIX
Minha morte nasceu quando eu nasci.
Despertou, balbuciou, cresceu comigo...
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi.

Já não tem mais aquele jeito antigo
De rir e que, ai de mim, também perdi
Mas inda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa, a escutar o que lhe digo:

Tu que és a minha doce Prometida,
Nem sei quando serão as nossas bodas,
Se hoje mesmo... ou no fim de longa vida...

E as horas lá se vão, loucas ou tristes...
Mas é tão bom, em meio às horas todas,
Pensar em ti... saber que tu existes!

Canção de vidro

E nada vibrou...
Não se ouviu nada...
Nada...

Mas o cristal nunca mais deu o mesmo som.

Cala, amigo...
Cuidado, amiga...
Uma palavra só
Pode tudo perder para sempre...

E é tão puro o silêncio agora!

Data e dedicatória

Teus poemas, não os dates nunca...  Um poema 
Não pertence ao Tempo... Em seu país estranho, 
Se existe hora, é sempre a hora estrema 
Quando o anjo Azrael nos estende ao sedento 
Lábio o cálice inextinguível... 
Um poema é de sempre, Poeta: 
O que tu fazes hoje é o mesmo poema 
Que fizeste em menino, 
É o mesmo que, 
Depois que tu te fores, 
Alguém lerá baixinho e comovidamente, 
A vivê-lo de novo... 
A esse alguém, 
Que talvez ainda nem tenha nascido, 
Dedica, pois, os teus poemas. 
Não os dates, porém: 
As almas não entendem disso...

Canção de Domingo

Que dança que não se dança?
Que trança não se destrança?
O grito que voou mais alto
Foi um grito de criança.

Que canto que não se canta?
Que reza que não se diz?
Quem ganhou maior esmola
Foi o Mendigo Aprendiz.

O céu estava na rua?
A rua estava no céu?
Mas o olhar mais azul
Foi só ela quem me deu!

Inscrição para uma lareira

A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...

Fotos via We Heart It


3 Comentários

  1. Amei tudo, mas me identifiquei com a última Parabéns tá lindo seu blog

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    Respostas
    1. Muito obrigada. Realmente a última poesia é muito linda. Fico feliz que tenha gostado do blog :)

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    2. De nada pois é maravilhoso saber que mesmo com esse mundo q vivemos ainda bem que tem pessoas criativas e sensata como vc !!!😏

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